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11 - 96420 2000

O Pilar do Belo

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"É preciso que cada homem retorne à sua verdadeira natureza e exponha sua alma à Luz de Deus."

Meishu-Sama



Este texto busca apresentar a relação entre religião e arte a partir do pensamento de MeishuSama, fundador da Igreja Messiânica Mundial, religião criada no Japão em 1935 e que chegou ao Brasil em 1955. Para ele, o Belo pode promover a salvação do ser humano, elevando a sua espiritualidade através do contato com as várias modalidades artísticas. A pesquisa analisa, entre outros, os conceitos de Belo, de salvação e de religião no âmbito do pensamento de Meishu-Sama.



A trilogia Verdade-Bem-Belo

“A Verdade é o caminho, o bem é a ação, o belo é o sentimento. Desejo ardentemente que todos os cultivem”.

Meishu-Sama


Os ensinamentos de Meishu-Sama têm como essência a trilogia Verdade-Bem-Belo. Esta trilogia constitui a base de seus Ensinamentos e a partir dela ele define os planos divino, espiritual e material. A trilogia VERDADE – BEM – BELO não se realiza linearmente mas num círculo interativo e evolutivo: a Verdade se manifesta através do Bem que se expressa no Belo. O Belo é o agente transformador da consciência do ser humano, sintonizando-o com a Verdade e despertando nele o desejo de praticar o Bem. Logo, definir de forma sucinta o conceito que Meishu-Sama apresenta de Paraíso Terrestre seria dizer que se trata do Mundo do Belo. Em relação ao homem, isto significa a beleza do seu espírito e do seu pensamento manifestada na harmonia de suas palavras e ações.




A Verdade

A Verdade é a vida em perfeita harmonia com as Leis da Natureza, é o próprio estado natural das coisas. É a expressão autêntica e correta da realidade, clara e pura. Fatos naturais da vida das pessoas, tais como a respiração, a alimentação e também a morte, estão de acordo com a Verdade, condizentes com um de seus princípios, o princípio da Harmonia. Para Meishu-Sama, o termo “harmonia” tem um significado mais amplo que o usual, visto a partir de uma nova lógica, a Dialética da Harmonia.


Na busca de respostas a questões importantes nos dias de hoje, relativas à vida do homem e à do planeta, é condição básica e indispensável a percepção de que o ser humano e os demais seres vivos são muito mais do que apenas a complexa máquina que faz seus corpos funcionarem. À definição de ser humano, visto basicamente como um ser individual e social, deve ser acrescentado um terceiro elemento: o homem é também um ser natural, e podemos 29 (1986, p.13). 84 dizer que este é a origem dos dois outros conceitos. O homem faz parte da Natureza e por isso deve viver em harmonia com ela: ele não é o seu senhor.


A Natureza é um corpo vivo, portanto possui espírito; podemos dizer assim que, sendo um ser natural, o homem é em ultima instância, um ser espiritual. (MEISHU-SAMA, 2004).


Assim, o Universo se constitui de dois planos interligados: o plano espiritual e o plano material. Meishu-Sama assim indica o significado por ele atribuído a estas expressões: A expressão “energia espiritual” ou “espírito” tem sido usada até hoje circunscrita à Religião ou à Metafísica. Por isso, na maioria das vezes, é associada à superstição. [...] A essência daquilo a que dou o nome de espírito é a fonte do grandioso poder que dirige tudo o que existe neste Universo e do qual dependem o nascimento, o crescimento, o movimento e a transformação de todas as coisas. Chamo-o de Poder Invisível. Sendo assim, daqui por diante chamarei o mundo conhecido simplesmente de mundo material, e o desconhecido, de mundo espiritual (2005a, v.2, p.57). E o ser humano, como um pequeno universo, deve ser visto também sob dois aspectos, o corpo e o espírito. Por isso, seu relacionamento com o mundo e com os seres que nele habitam deve ser harmônico, norteado pelas leis que regem este Universo. Quando ele contraria estas leis, provoca desarmonia, que se reflete no desequilíbrio de si mesmo, dos outros seres e do ambiente, alterando e desarmonizando a energia do cosmos. A pessoa doente, por exemplo, não está no estado de harmonia com a Verdade, porque lhe falta a saúde, que é a própria Verdade. Portanto, as doenças, a violência social, as crises financeiras, etc. representam distorções da Verdade.


O retorno à harmonia se dá através da purificação desta energia invisível, ou espiritual, eliminando assim a causa do desequilíbrio. A liberdade infinita concedida ao homem por Deus faz parte da Verdade e permite que ele escolha o seu modo de ser no mundo. Quando ele decide viver de acordo com as Leis da Natureza, insere-se na harmonia universal e, portanto, sua existência flui conforme seus desejos e necessidades. Mas quando ele se distancia dessas Leis, valendo-se da liberdade a ele concedida, instala a desarmonia no mundo e em si mesmo, o que vai criar a necessidade de novos fatos para restabelecer a harmonia.


Segundo Meishu-Sama, há várias formas de se obter a purificação da energia espiritual, tanto do homem como do ambiente; a primeira delas é uma resposta natural à ação que desarmonizou: a desarmonia instalada é que será a forma de se retornar à harmonia. Em suas palavras (2005a, v.1, p.46), “do ponto de vista da Grande Natureza, a desarmonia decorrente da ação antinatural é a verdadeira harmonia”. Isto quer dizer que doenças, conflitos e crises financeiras, tanto em âmbito individual como coletivo, são conseqüências de desequilíbrio da 85 energia espiritual e, ao mesmo tempo, formas de retornar ao equilíbrio. São fenômenos decorrentes do que ele denominou de “Lei de Causa e Efeito”30 e “ Processo de Purificação”.


31 Esta perspectiva pode ser encontrada, em linhas gerais, nas idéias de Prigogine32 apresentadas por Leonardo Boff em seu artigo “Não somos todos dementes?” (2001): A evolução se faz no esforço de criar ordem na desordem e a partir da desordem.. O processo evolucionário tem mostrado que o caos originário não se revela caótico, mas altamente generativo. Origina a complexidade que é a forma como o caos vem domesticado e transformado em fator de dinamismo construtor de novas ordens, capazes de fazer da desordem (do lixo), fonte de vida (as estruturas dissipativas de Ilya Prigogine). Mas Meishu-Sama aponta outras formas de buscar a harmonia, que não seja somente através de acontecimentos geradores de sofrimento ou desconforto. É o que a IMM chama de “colunas de salvação”: o Johrei (purificação do espírito através da transmissão da Luz de Deus pelas mãos), o Belo (elevação da espiritualidade e da sensibilidade através da criação e da contemplação da Arte) e a Agricultura Natural (fortalecimento da energia vital através da ingestão de alimentos cultivados de forma natural).


A busca do conhecimento da Verdade, para Meishu-Sama, e a sua divulgação só se justificam se voltadas para a sua concretização. É este o papel da religião, seu objetivo final: se constituir em caminho e agente concretizador desta Verdade.




O Bem

O Bem se manifesta através de pensamentos, sentimentos e atitudes altruístas, que emanam amor, misericórdia e desejo de justiça social; num sentido mais amplo, expressa um profundo sentimento de dedicação a toda a humanidade. Para Meishu-Sama, a missão do seu humano neste mundo é trabalhar, de acordo com a profissão que exercer, a fim de contribuir para o bem-estar e a evolução da sociedade de que faz parte. Portanto, o simples fato de uma pessoa não se ocupar de algo produtivo já está em 30 A “Lei de causa e efeito” apregoa que toda ação – boa ou má - tem suas conseqüências; segundo MeishuSama, estas podem se realizar nesta ou em outras vidas, de acordo com a “Lei da Reencarnação”.


31 “Processo de Purificação”: quando as máculas espirituais atingem um certo nível no espírito do homem, surgem ações purificadoras através de sofrimentos em sua vida para reestabelecer a harmonia original.

32 Ilyia Prigogine, 1917-2003, físico-químico russo e Prêmio Nobel de Química de 1977 por seus estudos em termodinâmica de processos irreversíveis com a formulação da teoria das estruturas dissipativas. 86 desacordo com a Verdade, gerando, portanto, a desarmonia em sua vida e no Universo, mesmo que esta pessoa não pratique o mal. O trabalho é, pois, uma missão revestida de significado sagrado, e deve ser exercido com sinceridade, pois é a maneira pela qual cada pessoa contribui para a construção de uma sociedade e um mundo pautados na harmonia. Além desta forma de participação no bem-estar coletivo, ou concomitante a ela, existe a prática de virtudes. Quando o ser humano se distancia do Bem, praticando o Mal, está se distanciando da Verdade de sua essência, pois o Bem é a Verdade em ação. Mas como discernir o Bem do Mal? Meishu-Sama diz que a medida que deve ser utilizada para esta distinção é o egoísmo.


Ele explica: Fazer os outros sofrerem para auferir benefícios próprios, causar danos a terceiros, é Mal. Beneficiar o próximo, melhorar o mundo, deixar os interesses pessoais relegados ao segundo plano, colocando os interesses das outras pessoas e da sociedade em primeiro lugar, isto é Bem (1995, p.327). A boa ação tem origem no amor à humanidade, ou seja, no sentimento de compaixão, de amor ou de justiça. Há pessoas que praticam o Bem por saberem que isto lhes trará bons frutos; outras são movidas pela compaixão e pelo desejo de ajudar aquele que sofre. Segundo Meishu-Sama, se determinada prática do Bem é reconhecida por todos, ela já está sendo recompensada. Mas se não for conhecida pelos outros, será premiada por Deus. “Por isto, é melhor praticar o Bem, fazendo o possível para que as outras pessoas não saibam. Quem age assim, será abençoado por Deus, várias, muitas vezes mais" (Mioshie-Mondoshu, (não publicado)). É o que ele denomina “virtude oculta” e “virtude ostensiva”. E esclarece que o ser humano que tem afinidade com o Bem é aquele que crê no invisível, sendo, portanto, espiritualista; já o que se liga ao Mal, não crê em nada além da matéria, e nega a vida após a morte. E conclui: “Desejamos ser vistos por Deus, não tendo a intenção de sermos notados pelo homem.


Desejar ser visto por Deus - este é o verdadeiro objetivo. Por isto, o modo de pensar tendo Deus como centro - ser visto e estimado somente por Deus - é suficiente” (Mioshie-Mondoshu, (não publicado)). Há ainda um terceiro motivo para se praticar o Bem: retribuir a vida e a proteção divina recebidas. A gratidão é o sentimento mais nobre de quem compreende e concretiza a Verdade e o otimismo é um sentimento próprio de quem tem gratidão. Neste caso, a prática de virtudes é a materialização da gratidão a Deus através da ajuda proporcionada a outras pessoas. Tratase de um conceito de grande significado no universo messiânico: o servir como forma e 87 oportunidade de agradecer.


Não basta buscar conhecer a Verdade, é preciso aplicar o que se conheceu através da prática desta Verdade - nota-se aqui a presença do conceito de pragmatismo que permeia todo o pensamento de Meishu-Sama. Portanto, é servindo ao próximo e à humanidade que se coloca em ação a própria essência da vida do ser humano: servir a Deus através da participação na concretização de Seu Plano. Este servir sincero, que não visa reconhecimento das pessoas nem projeção pessoal, gera novas bênçãos que, por sua vez, aumentam o sentimento de gratidão. Nidai-Sama, a Segunda Líder Espiritual da IMM, chamou a isto de “Círculo Benéfico” (s.d.,v.2, p.20).




O Belo

“A Verdade e o Bem são coisas espirituais, mas o Belo eleva o espírito do homem através dos olhos”.


33 Meishu-Sama O Belo, segundo Meishu-Sama, se expressa através da Natureza e da Arte. A Beleza na Arte é a manifestação da sensibilidade do artista na expressão de seu sentimento de Bem através da harmonia das formas ou dos sons. O contato do homem com o Belo possibilita a elevação da sua espiritualidade e sensibilidade através da criação e da contemplação da Arte, na medida em que desperta seus sentimentos de Verdade e de Bem, aproximando-o da essência da vida, despertando a partícula divina que nele existe. Para ele, portanto, a presença do Belo na vida das pessoas desperta o Bem no espírito de quem a contempla porque é a manifestação do Bem do espírito de quem a criou. Este é o caminho para a construção do mundo ideal. E Meishu-Sama conclui: “Da expansão do belo individual nasceria o belo social" ( Alicerce da Arte, Prefácio, (não publicado)).


Baseando-se nesse ideal, Meishu-Sama construiu os Solos Sagrados, que possuem ambientes em que se harmonizam a beleza natural, da montanha e das águas, e a beleza artificial dos jardins, criando assim uma obra de arte. Ele assim se expressa: O Paraíso Terrestre [...] é o Mundo da Arte. Obviamente, se ele é um mundo isento de doença, pobreza e conflito, isto é, o mundo de perfeita Verdade, Bem e Belo, o homem seguirá a Verdade, amará o Bem e odiará o Mal; assim, todas as coisas se tornarão belas. Nesse sentido, a Arte não será apenas um deleite indispensável mas, ela constituirá a própria vida e se 33 (2005 a, v.5, p.72). 88 desenvolverá intensamente, ou seja, o Paraíso Terrestre será o Mundo da Arte (2005 a, v.5, p.56). Em 1950 ele iniciou a construção de um museu de arte em Hakone, no Solo Sagrado denominado Shinsen-Kyo, a Terra Divina, onde reuniu as obras que adquiriu com grande esforço durante o período de pós-guerra. A primeira delas chegou a suas mãos em 1944 e, nesta época, o mercado japonês ficou repleto de obras de arte.


Duas muito importantes foram assim adquiridas: o Biombo de Ameixeiras com Flores Brancas e Vermelhas, Tesouro Nacional, da autoria de Korin Ogata e, como foi relatado no Capítulo 1, no dia 8 de fevereiro de 1955, o Pote de Chá com Desenho de Glicínias, de Ninsei Nonomura. Ao construir o Museu de Arte de Hakone, o objetivo de Meishu-Sama era proporcionar ao Japão e ao mundo a oportunidade de apreciar a arte oriental, e especialmente a japonesa, mostrando a profunda compreensão, o alto senso estético e a técnica esmerada que os japoneses possuem em relação à arte, além de propiciar ao próprio povo japonês o contato com a sua cultura, representada por obras de artistas renomados de diversas épocas. Sua opinião era que as obras de arte não deveriam ser monopolizadas pela elite, e sim disponibilizadas ao maior número possível de pessoas, para que o povo pudesse assim aprimorar sua sensibilidade e elevar seus sentimentos.


Certa ocasião, em 1953, ao receber a visita de um militar do exército americano, o Major H. Shaw, este assim se dirigiu a MeishuSama (Alicerce da Arte, seção 38, (não publicado)): Este Museu de Belas-Artes oferece o que há de mais significativo no Japão. Isto porque, até então, as obras de arte deste país estavam cuidadosamente guardadas pela classe privilegiada e tratadas por ela como objetos de estimação e de propriedade particular. No entanto, o fato do senhor ter reunido grande número de objetos valiosos e tê-los exposto ao público, de forma desinteressada e com o objetivo de divertir o povo, significa que rompeu o monopólio da arte e abriu o portão para a democratização. Isso é motivo de profunda emoção e grande respeito ao senhor. Na verdade, Meishu-Sama pretendia, com a construção dos Solos Sagrados e do Museu de Belas-Artes, contribuir para a elevação do sentimento estético do ser humano, e dos japoneses de forma mais imediata, mas também falar ao mundo do aspecto pacífico deste povo: “Também tenho, obviamente, o desejo de erradicar do nosso país, o quanto antes, a repugnante fama de ‘povo invasor’, mas o que estamos planejando atualmente é a moralização do sentimento humano através do Belo” (Alicerce da Arte, seção 38, (não publicado)):


Fonte: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp114372.pdf (HELOISA HELENA GUEDES TERROR)



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